domingo, 7 de setembro de 2008

Descompasso

Quantas idéias são desperdiçadas por dia?
Perdem-se na confusão dos ponteiros que nos deixam com sono, nessa hipnose incessante.

Há um descompasso entre o que sentimos e o que dizemos sentir, entre o que pensamos e o que dizemos pensar: no ritmo, na forma, na velocidade, nas palavras. Assim, por mais sinceros que queiramos ser, seremos sempre um pouco mentirosos.
Minha essência não me corresponde.
Minha verdade é intangível,
intocável,
inaudível,
invisível.
Minha verdade só pode residir em mim, já que ela só é, de fato, verdade enquanto não foi expressa. (Expressá-la é, já, corrompê-la). Somos inevitavelmente artificiais na nossa naturalidade (que absurdo!).
Angústia, parafusos, sinapses. Penso em sinapses? Como podemos assim nos decifrar?
Talvez não possamos. Mas elegemos algo para ser nossa verdade, e nos apegamos a ela. Amo o absoluto para não sofrer com as possibilidades, assustadoras em sua incerteza. Fica mais fácil e simples e precisamos do que é fácil e simples.
Absurdos.
Mistério que habita em nós e se revela nos dias de chuva.
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"Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isso é ser uma pessoa?" Clarice Lispector.

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