quarta-feira, 15 de abril de 2009

Antes louco do que medíocre.

" - Por que é que os homens - gritei - não podem falar de uma coisa sem logo declarar: "Isto é insensato, aquilo é razoável, aqueloutro é bom, isso aí é mau"? De que servem todas essas palavras? Você já conseguiu, graças a elas, penetrar as circunstâncias ocultas de uma ação? (...)
Alberto replicou-me:
- Você há de concordar comigo que certas ações são sempre criminosas, qualquer que seja o seu móvel.
Dei de ombros e acrescentei:
- Todavia, meu caro, ainda neste ponto, há exceções. É verdade que o roubo é um crime, mas o homem que se torna ladrão para salvar-se e salvar aos seus merece a compaixão ou o castigo? (...) Nossos próprios juízes, estes pedantes de coração gelado, deixar-se-iam comover e seriam capazes de suspender o julgamento.
- O caso aqui é completamente diverso. (...) - tornou Alberto.
- Oh! Essa gente razoável! - exclamei eu, sorrindo - Paixão! Embriaguez! Loucura! E vocês se conservam tão calmos, tão indiferentes, vocês, os homens da moral. (...) Tenho-me embriagado mais de uma vez, as minhas paixões roçaram sempre pela loucura e disso não me arrependo, porque só assim cheguei a compreender, numa certa medida, a razão por que, em todos os tempos, sempre foram tratados como ébrios e como loucos os homens extraordinários que realizaram grandes coisas, as coisas que pareciam impossíveis. (...)"

Memórias Sentimentais do Jovem Werther - Goethe.