domingo, 7 de setembro de 2008

Descompasso

Quantas idéias são desperdiçadas por dia?
Perdem-se na confusão dos ponteiros que nos deixam com sono, nessa hipnose incessante.

Há um descompasso entre o que sentimos e o que dizemos sentir, entre o que pensamos e o que dizemos pensar: no ritmo, na forma, na velocidade, nas palavras. Assim, por mais sinceros que queiramos ser, seremos sempre um pouco mentirosos.
Minha essência não me corresponde.
Minha verdade é intangível,
intocável,
inaudível,
invisível.
Minha verdade só pode residir em mim, já que ela só é, de fato, verdade enquanto não foi expressa. (Expressá-la é, já, corrompê-la). Somos inevitavelmente artificiais na nossa naturalidade (que absurdo!).
Angústia, parafusos, sinapses. Penso em sinapses? Como podemos assim nos decifrar?
Talvez não possamos. Mas elegemos algo para ser nossa verdade, e nos apegamos a ela. Amo o absoluto para não sofrer com as possibilidades, assustadoras em sua incerteza. Fica mais fácil e simples e precisamos do que é fácil e simples.
Absurdos.
Mistério que habita em nós e se revela nos dias de chuva.
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"Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isso é ser uma pessoa?" Clarice Lispector.

Crise kafkiana

Muitas vezes pus de lado meu impulso de escrever, por falta de tempo, por falta de energia, viciosamente consumida num cotidiano desgastante, ou por isso não constituir uma prioridade no momento (e atualmente meu olhar precisa estar inteiramente voltado para as prioridades).
É uma pena. Nunca se sabe dos filhos que ainda vamos ter, por mais que eles passem meses tomando forma e substância dentro de nós. Conhecemo-nos pouco demais para termos uma real noção daquilo de que somos capazes. Talvez exista em nós alguma poesia. Cansada, é verdade, de ser cotidianamente sufocada, mas existente, pulsante, latente.


"Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas continuarei a escrever." Clarice Lispector.

domingo, 31 de agosto de 2008

Rascunho

Não escrevo porque escrevo.
Escrevo porque preciso.
Fluxo de consciência, dessa minha consciência inconstante e voraz, que me devora os ossos, a energia e a voz. Uma consciência que exige ser ouvida, mesmo quando não sabe o que realmente quer dizer. Então ela fala, fala... palavras desconexas, ruído, furacão. Ela fala silêncio e revolução. E me sussurra em ouvido alheio, só pra se fazer sentir. O que ela precisa mesmo é confirmar sua existência impertinente, provar-se para si mesma. Auto-afirmação. Irrita-me. Mas, como dois vermes mutualistas, precisamos uma da outra. Ela sou eu. E em presença dela, estou só. A solidão me permite a companhia de mim mesma. O intransmissível.

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"This time, I'm going to keep me all to myself." Pagan Poetry - Björk.

"Before you count one two three
I will have grown my own private branch
Of this tree." Unison - Björk.